Teresa, a Jovem Rica
2018-
Ação, fotos, instagram



@teresajovemrica
A primeira loja que Teresa entrou para experimentar vestidos foi a Dolce&Gabbana no VillageMall na Barra da Tijuca em um dia de semana à noite. A vendedora que lhe atendeu tinha sotaque italiano, traço frequente nas vendedoras de loja de grife, como ainda iria descobrir, era alta e estava vestida toda de preto. Teresa disse que estava à procura de um vestido pois iria a um casamento.

A vendedora, que se chamava Eva, fez algumas perguntas sobre o casamento: se seria à noite ou durante o dia, formal ou casual, onde aconteceria e se eu seria madrinha ou só convidada. Teresa improvisou nas respostas, criando pela primeira vez a narrativa que se seguiria nas próximas lojas dali para frente. O casamento seria durante o dia, mais casual do que pro formal (descobriu também mais tarde que era mais fácil achar vestidos que servissem à essas características), aconteceria na Barra da Tijuca e Teresa era apenas convidada.

A vendedora prosseguiu indicando dois vestidos, ambos estampados, um branco curto de mangas compridas e um rosa de comprimento abaixo do joelho e bem justo. Ela também trouxe um par de sapatos de salto alto para complementar o look e tornar a visualização do vestido melhor (prática também frequente). Teresa experimentou o rosa primeiro e apesar do vestido ter um ar divertido achou que lhe deixou com um aspecto de mais velha do que era, e foi isso que disse à Eva, apesar de até ter gostado do vestido. Mas não deixou de tirar fotos no espelho do provador o usando. O provador era espaçoso e todo dourado, do papel de parede ao tapete. Experimentou o outro em seguida, que gostou bem mais e tirou fotos também. Mas ao terminar as experimentações, depois de perguntar os respectivos preços, disse à Eva que teria que dar mais uma pesquisada em outras lojas e confirmar com seu pai se poderia comprar ou não, mas que talvez voltasse e assim, Eva lhe deu seu cartão com número de celular. Os vendedores de grife geralmente carregavam esse aparelho celular de trabalho em uma bolsinha tira colo que fazia parte do uniforme e às vezes sugeriam salvar o número do cliente para futuras compras.

O que nos leva à Miu Miu, a loja mais frequentada por Teresa, já que o vendedor Felipe tinha seu número e sempre lhe mandava por Whatsapp fotos de produtos recém chegados e procurava combinar as visitas de Teresa à loja. Algumas vezes ela foi seguindo o combinado, chegando a experimentar até roupas mais casuais, que não seriam para o casamento, mas sempre tirando fotos. A Miu Miu é uma subsidiária da Prada, e segue uma linha de roupas mais “jovem” e “meiga”. O provador era amplo e azul bebê, e além da poltrona também havia uma mesinha do mesmo material, possivelmente para apoiar a taça de champagne.

E falando em champagne, a pergunta mais frequente feita a Teresa por aqueles que sabiam dessa sua prática de experimentar roupas em lojas de grife é se ela ganhava champagne nas lojas. Apenas uma vez [1]. Por acaso Teresa entrou na Miu Miu quando estava acontecendo uma comemoração de Dia das Mães. “Imagino que você não seja mãe, não é?”, disse uma outra vendedora, Felipe não estava nesse dia, “mas pode ficar à vontade”, assim Teresa aceitou a taça e aproveitou para tirar foto no provador bebericando o champagne (essa foi postada apenas no stories [2] de seu Instagram).

Era mais comum lhe oferecerem café nas lojas. Porém, Teresa comeu bombom ambas as vezes que foi à Carolina Herrera. Com a distância de quase um ano entre as duas, foi atendida coincidentemente pela mesma vendedora, Michele. Além dos vestidos e sapatos ela lhe dava acessórios como bolsas, brincos e anéis para experimentar. Adicionou Teresa ao seu Whatsapp na primeira ida à loja, e na segunda ao tentar adicionar novamente foi que descobriram que já tinham se conhecido. Teresa alternava dias de semana, finais de semana e horários em suas idas ao VillageMall, para evitar repetir o contato com os mesmos vendedores (com exceção do Felipe).

Apesar de frequentar amplamente a Miu Miu, sua loja favorita era a Valentino, que possuía o maior provador de todas, com paredes cinzas acolchoadas e iluminação no enorme espelho dividindo-o em três partes. Os vestidos costumavam ser mais caros do que a média. O vestido mais caro já experimentado por Teresa foi um Valentino verde escuro de veludo de comprimento até o chão que custava quase R$20.000,00 sem os descontos. Não conseguiu tirar foto vestindo o tal vestido porque a vendedora não deixou o provador e não tirou os olhos de Teresa em nenhum momento em que ela estava com o vestido no corpo. Mas o segundo vestido mais caro também é um Valentino longo, branco e estampado, e há registro fotográfico desse.

Apenas uma vez uma vendedora pareceu duvidar do discurso de Teresa e lhe fez perguntas incomuns e pessoais. Foi na Michael Kors. Mas Teresa chegou a experimentar um vestido preto e brilhante num provador cheio de caixas e escrever uma breve reclamação na legenda da foto no Instagram. Uma vendedora da Prada tirou uma foto a pedido de Teresa, que vendo que ela não deixaria o provador enquanto estava com o vestido e teria que inclusive lhe ajudar a tirá-lo do corpo, resolveu pedir que tirasse a foto para mostrar à sua mãe, antes de tomar a decisão de comprar ou não o vestido. Infelizmente dessa vendedora, Teresa perdeu o nome, mas lembra que ela gostava de dizer os nomes dos tecidos dos vestidos em italiano (e também tinha sotaque, claro). O provador era grande, como sempre, verde e tinha uma porta bem pesada.

Poucas foram as vezes que havia outros clientes na loja ao mesmo tempo que Teresa. Depois de pesquisar se havia outras lojas de grifes em outros lugares que não no VillageMall, descobriu a Salvatore Ferragamo no Shopping Leblon. Outras grifes haviam fechado suas lojas lá. Pouco tempo depois uma Gucci abriu no Copacabana Palace, mas ainda não teve oportunidade de ir. A Gucci no VillageMall vendia na época apenas sapatos, bolsas, óculos escuros, relógios, carteiras, velas, etc. Roupas somente encomendadas pelo site para importação através da loja. Porém, Teresa não deixou de ir e conferir os produtos. Uma das vendedoras lhe contou a história da grife Gucci, dos seus famosos símbolos e de alguns produtos específicos que estavam à venda na loja, como uma bolsa de couro de uma espécie de crocodilo do Egito. Teresa também já entrou na loja da Tiffany e ganhou uma revista, ou melhor, um catálogo, que guardou com carinho.

As fotos com os vestidos nos provadores eram postadas por Teresa no seu perfil no Instagram - @teresajovemrica - com a loja da grife ou o shopping VillageMall na marcação de lugar, comentários sobre o vestido ou o atendimento recebido na legenda e hashtags genéricas como #fashion e #itgirl.



[1] Perguntavam provavelmente lembrando da conhecida exigência de Val Marchiori, socialite do reality show brasileiro Mulheres Ricas, em receber boas champagnes em lojas (ou em qualquer evento).

[2] Opção de postar fotos que ficam no ar apenas por 24 horas.




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